sexta-feira, dezembro 17, 2010

Sou sacrificio vivo

Este post é um e-mail que mandei aos meus amigos a partilhar o que aprendi durante esta tour. Aprendi lições extremamente valiosas e aproximei-me bastante de Deus. Não se assustem com a extensão do texto, isto é menos do que parece e lê-se rápido, mas o ideal seria reunir-me com eles e eu lia em voz alta, não seria tão cansativo, mas no entanto escrevo para poder reflectir (apenas um pouquinho) nas palavras, apesar de saber que haverão ideias que serão esquecidas e inúmeras coisas que ficaram por dizer. No entanto partilho aqui no meu blog que ninguém lê porque não tenho nada a esconder, tudo na minha vida é obvio, até mesmo aquilo que não pronuncio, é facilmente perceptível.
Isto não é necessidade de chamar à atenção, só espero ajudar alguém que tenha passado pelo mesmo tipo de negatividade que passei e mostrar que até as coisas más que passamos podem revelar-se coisas boas.
Escrevo isto porque ao longo que o tempo vai passando vou entendendo o peso das nossas palavras e das declarações que fazemos a Deus.
Eu entreguei a minha vida na sua totalidade ao Senhor (e não me arrependo). Ele é soberano em todas as coisas, e esforço-me a cada dia para que ele possa ter total controlo e liberdade sobre as áreas em que sou mais teimoso e frágil. Entrego a minha vida em sacrifício vivo (tal como no cântico, inspirado no primeiro verso do decimo segundo capitulo da carta aos Romanos).
Ontem acabei de aprender o verdadeiro significado do termo “sacrifício vivo”.

Vamos sopor que podemos dividir as várias áreas da vida em 6 áreas diferentes:

01 Família
Eu entreguei a minha família a Deus. Durante esta viagem percebi que a minha família não me pertence, e não quero dramatizar mas há um certo ponto em que eu também não pertenço à minha família. Há de chegar a um ponto em que cada um de nós toma rumos diferentes e alguém fica para trás, quer queiramos ou não. Há de chegar a um ponto em que nenhum deles vai me compreender e saber dar-me o que preciso exactamente. Mas no entanto a distância marca-nos bastante, nem um simples telefonema ou vídeo-chamada pode sequer atenuar a saudade, na minha família se não sentimos a presença uns dos outros estamos longe, ainda que estejamos no mesmo edifício (não sei se entendem, ou talvez seja demasiado dramático e lamechas…). Eu estou constantemente a ser chamado a estar longe da minha família e sei que devo obedecer a esse chamado e é o lugar onde devo estar, mas tenho que ter noção que eles não me pertencem, não há absolutamente nada relativo a eles que esteja sobre o meu domínio, por isso oro sempre a Deus que cuide da minha família.

02 Amigos
Há quem ache que tenho muitos, a verdade é que conheço uma legião de indivíduos e conto com os dedos de uma mão os verdadeiros amigos, e mesmo esses poucos não me pertencem. Sei que para eles sou tão descartável como qualquer outra pessoa (eles não se apercebem nem querem admitir, sempre que são confrontados com esse facto negam-no, mas a verdade é que as coisas funcionam assim). Sem querer muitas vezes tomam-me por garantido, ou seja, já sabem o que esperar de mim e que aconteça o que acontecer vou sempre estar lá quando se lembrarem que até podem contar comigo quando precisarem. O pior é que isto tudo é verdade e eles nem se apercebem. Apercebo-me disso quando (sem se aperceberem) colocam-me para trás devido à forte intimidade que já temos em que achamos que já nos conhecemos tão bem que expomos tudo o que há em nós de modo a que descarregamos todos os nossos sentimentos negativos sobre essa pessoa, e para alem disso não percebemos que não damos a tenção a quem quer realmente saber de nós quando à outra pessoa que parece fascinante… E depois, mesmo quando percebemos, já é tarde de mais, eu falo por mim, já estou tão magoado que tudo o que mais desejo é estar longe desses meus amigos em questão.
As amizades vão e vêm, e por isso mesmo sinto que não me pertencem, no entanto oro sempre a Deus que cuide dos meus amigos e dou tudo o que tenho e o que sou a eles…

03 Trabalho
Acham mesmo que levanto-me todas as manhãs feliz da vida porque vou trabalhar?
O meu trabalho não me pertence, (e digo isto para alem das questões obvias), nem vou comentar o salário ridículo que recebo comparado com o valor das responsabilidades que tenho.
Eu naquela empresa não consigo confiar em ninguém não tenho uma única pessoa que possa considerar um amigo (e estou a usar o termo “amigo” de uma forma superficial). Sou obrigado a fazer imensas coisas que não gosto para poder colaborar com a minha família e pagar uma casa que não me pertence (e não digo isto por ser a casa dos meus pais, na verdade a minha casa pode ser penhorada a qualquer momento e eu posso ficar sem ela). Mas este emprego é a única alternativa ao desemprego, e também não tenho formação superior nem condições de financiar a mesma, tenho que engolir a seco e enfrentar cada dia. Sou responsável por projectos que envolvem milhares de euros, e todos os dias sou ameaçado de assumir as responsabilidades caso alguma coisa falhe, mesmo sabendo que há gente que pode lixar o meu trabalho para proveito próprio.
No entanto oro a Deus que me capacite e ajude no meu desempenho, que abençoe a empresa e todos os trabalhadores, e dou sempre o meu melhor, esforço-me ao máximo. E ultimamente estou a orar para que Deus me dê um emprego melhor.

04 Carreira
Para mim é uma coisa completamente diferente do trabalho. Vamos falar única e exclusivamente de musica.
Meus amigos eu não tenho carreira. Mesmo a serio. Eu toco em imensas bandas e com imensa gente, mas nenhum desses projectos é meu. Nem mesmo a musica que digo fazer a solo é totalmente minha, eu não tenho valor algum sem alguém que trate da produção e sem alguém que toque comigo, mesmo a serio é que ninguém presta atenção ao que faço.
Eu não estudei musica, nem tenho capacidades virtuosas no meu desempenho.
Eu tenho a certeza absoluta que não sou insubstituível. Vou ser muito directo, no dia em que sair de Cast A Fire (que é o projecto mais importante para mim) não vai haver diferença alguma. Eu dou tão pouco a isto, e mesmo que desse tudo não seria suficiente. Há alturas em que sei que se for para longe só vão dar pela minha falta muito tempo depois (ou então simplesmente encontram-me pelo caminho como se não passasse nada). Por mais que eu queira Cast A Fire nunca vai ser a minha banda, tal como o resto de todas as coisas da minha vida, esta banda não me pertence. No entanto eu entrego-me a isto de modo a ser capaz de deixar tudo o resto para trás em função de beneficiar de algum modo este projecto. Deus sabe a relevância que Cast A Fire tem para mim (um dia posso explicar porque é que eu por vezes digo “CAF salvou a minha vida”).

05 Dinheiro
Não tenho nenhum, recebo um salário mínimo que em duas semanas desaparece após ter pago as contas que me competem pagar, tratar da alimentação da minha família e na maior parte das vezes os 50€ que sobram servem para pagar as viagens que faço para ir para os ensaios. No entanto peço a Deus que cuide das minhas finanças e me dê sabedoria para lidar e administrar bem o meu dinheiro.

06 "Vida Amorosa" (e coloco MUITA enfase nas aspas)
Esqueçam. Mesmo a serio. Eu talvez nem deveria tocar no assunto, mas até um certo ponto da minha vida tinha uma vida sexual (e por favor todos sabemos que isto não surpreende ninguém), e claro que deixei de ter por amor e obediencia a Jesus e o resto já sabemos. Mas também de facto estou a corresponder a um voto de confiança silencioso que as pessoas me deram, quase como “podes fazer isto se mudares os teus hábitos”... E não há pessoas das quais eu simplesmente não quero saber que recebem esse esforço da minha parte. Não é que eu queira dizer que é injusto. Mas com isto também só acho que muitas dessas pessoas não têm moral quando dizem que eu não devo viver em função da minha vontade mas em prol dos outros. Bem acho que a pessoa que me ensinou isso está correcta mas nem tem moral para falar, pois quando vivemos em comunidade revela-se a pessoa mais mimada e egoísta e sem respeito algum pelas pessoas que lhe rodeiam. Mas isto foi só um desabafo nem se aplica bem à minha vida amorosa.
A verdade é que sou um idiota, nem percebo se uma rapariga sente-se atraída por mim, mesmo com todos os sinais (eu não os vejo). E no fim da viagem acabei por saber que uma rapariga de quem eu gostava afinal também gostava de mim. Mas agora é tarde de mais, ela está bem com outro rapaz (e só lhes desejo o melhor). Todas os dias sinto-me só e incompleto. Não é bom que o homem esteja só, diz a palavra. Eu oro a Deus que me ajude a ser paciente e confiar no seu tempo, e trazer a mulher perfeita para mim, mas no entanto que ela ame mais a Jesus do que a mim.


Como podem ver nada nesta vida me pertence. Não tenho dada, mas a verdade é que nem Jesus tinha onde reclinar a sua cabeça.
No entanto sei que entreguei a minha vida a Cristo em sacrifício vivo, e só em Deus eu coloco toda a minha confiança.
Apesar de tudo sei que num estalar de dedos tudo pode sair da minha vida tal como a água que nos escorre por entre os dedos, por isso tento sempre aproveitar ao máximo todos os momentos, os bons e os maus, todos têm valor. Aproveito cada segundo pois nada disto é para sempre.

Desfruto os momentos bons com quem está a meu lado, amando-os incondicionalmente.
E em todos os momentos maus sei que vou sempre aprender com eles…
O povo tem razão quando diz que o que não nos mata só nos faz mais fortes.